«O homem prudente vê o perigo e desvia-se; os ingénuos passam e sofrem os danos.»
Provérbios 27, 12
«O homem prudente vê o perigo e desvia-se; os ingénuos passam e sofrem os danos.»
Provérbios 27, 12
道可道、非常道。名可名、非常名無名天地之始有名萬物之母。故常無欲以觀其妙、常有欲以觀其徴。此兩者同出而異名。同謂之玄。玄之又玄、衆妙之門。
The Tao that can be followed is not the eternal Tao.
The name that can be named is not the eternal name.
The nameless is the origin of heaven and earth
While naming is the origin of the myriad things.
Therefore, always desireless, you see the mystery
Ever desiring, you see the manifestations.
These two are the same
When they appear they are named differently.
This sameness is the mystery,
Mystery within mystery;
The door to all marvels.
Tao Te Ching [Trad. de Charles Muller]
Zoltán Biedermann encontra-se no Irão. Eis o relato que faz da sua viagem.
Desde que cheguei a Teerão, há oito dias atrás, que ando a calcorrear este país estranho sem conseguir encontrar nem tempo, nem lugar para vos escrever. É de Bandar Abbas, porto quente e húmido à beira do Golfo, que agora me reconecto ao mundo virtual. Mas para ser correcto, devo voltar atrás aos planaltos do Irão e começar tudo desde o princípio. E custa. Teerão é um monstro urbano aparentemente semelhante a tantos outros do Terceiro Mundo. Espraia-se por um planalto poeirento e ventoso, tem 10 milhões de pessoas e três milhões de carros muito mal cheirosos, e quando se anda de um lado para o outro nunca se demora menos de uma hora, sempre a percorrer vias rápidas infindáveis, seguindo em filas enervantes e, muitas vezes, sanguinárias. A residência universitária que nos acolheu fica no meio de um bairro, muito central, que lembra os subúrbios industriais pré-segunda-guerra de Budapeste, e embora brilhe por um certo luxo na arquitectura exterior, a limpeza deixa imenso a desejar. Finalmente, ao tentarmos fazer um pouco de zapping antes de adormecer, nada encontrámos que não fossem mullahs a garantir ao seu povo que a felicidade aqui cresce nas árvores (que árvores?), mullahs a maldizer "o inimigo" Israel, e ainda mullahs a salmodiar de modo quase tão enervante e sanguinário como as filas automóveis o Sagrado Alcorão. Tudo parecia encaixar tão bem, até que, no dia seguinte à chegada, as coisas se começaram a complicar. Primeira surpresa, uma estranha sensação de familiaridade que me vinha pelo lado centro-europeu: os iranianos e as iranianas, tão contrariamente ao nobre povo de Portugal, adoram andar a pé. Nos feriados, a primeira coisa que fazem, além de se meterem no carro para saírem dos infernos urbanos que são todas as suas cidades, e irem até à montanha e começarem a caminhar. A festa nacional do Ano Novo, o famoso Nourouz, é antes de mais nada uma festa de caminhadas pela natureza. Vai-se à montanha para cheirar a natureza, ver com os olhos o que a poesia exalta há mil anos com incomparável artifício. E o feriado em que comecei a tomar o pulso a Teerão, o dia 20 de Abril, aniversário da morte do Imam Reza, não foi diferente. Do lado Norte, a capital do Irão sai do planalto e trepa pelos sopés de uma serra imensa. Os cumes, ainda brancos, que se elevam a mais de 4000 metros de altitude, brilham por cima dos bairros ricos como um belíssimo chamariz. E lá vão eles, os e as teeranenses, munidos de botas de montanha ou não, andando por encostas íngremes, gozando as vistas, namoriscando sem se preocuparem com as récitas corânicas que alguns altifalantes teimam, ainda ali, em difundir. A segunda surpresa já está introduzida: longe de se deixarem oprimir em toda a sua vida pessoal, os jovens de Teerão (e de jovens é feito este país, onde mais de 60 por cento da população tem menos de 35 anos) são uns atrevidos de primeira. Aliás, mais correctamente, as jovens é que são. Passamos por elas, temendo as piores reprimendas policiais se dermos o menor dos sinais de interesse (porque é isso que vem descrito no Lonely Planet), e elas põem-se a chuchotar, a rir e a comentar cada um de nós com o maior descaramento possível. Põem-se, para maior embaraço ainda, a questionar-nos sobre isto e aquilo, quando é óbvio que só nos querem observar de perto o maior tempo possível (até que algum polícia ou guardião da revolução, enervado com a situação, lance um olhar temível e a coisa se acalma). Elas que, claro está, por baixo das vestes ridículas que a lei prescreve vestem tudo e todas as cores que as nossas miúdas também vestem (e note-se que não estou a falar da lingerie parisiense que, segundo certos rumores, hoje já se pode descobrir). Terceira surpresa, os jovens iranianos (termo redundante, como já disse), são expostos a lavagem cerebral diária pela televisão e pela imprensa, mas não deixam de nutrir-se da melhor literatura, a qual vão buscar a uma filada incrível de livrarias situadas em proximidade à universidade. Ali em Enqelab Avenue, cada loja vende livros, e há mesmo um centro comercial inteiro só com livrarias. O que melhor vende não são as parvoeiras dos mullahs (essas lojas estão quase todas vazias) mas sim as traduções de literatura ocidental, os livros de informática e os métodos de aprender inglês, alemão e francês. Quem nos dera esta fome de saber, este entusiasmo e esta abertura de espírito. Quem nos dera entrarmos só uma vez em cada mês numa livraria e tirarmos da estante, para o folhear ou comprar, um volume de poesia persa. Quarta surpresa, e com esta termino por hoje, este regime está podre, corrupto e para além de todos os critérios do bem e do mal (vamos lá ver se me censuram esta), mas tem uma coisa essencial que o distingue dos idos regimes de Leste, ainda chorados por alguns idealistas entre nós: este regime, ao contrário dos comunismos e socialismos reais, está podre de rico. Tem dinheiro à farta e sabe muito bem onde o deve investir. Investe-o na aparente felicidade das suas gentes, na educação da sua juventude, na manutenção de milhares de rotundas verdejantes e espampanantes que se espraiam pelos planaltos a par e passo. Investe-o, já se entendeu, na nutrição de uma enorme ilusão, e hoje encontrei a prova de que, em certos casos, o ilusionismo funcionou: acabo de discutir durante mais de uma hora as vantagens e desvantagens das democracias de cá e de lá, e não consegui demover o meu interlocutor, um simpático estudante de engenharia, filho de professores esclarecidos e bem pagos, da sua posição inicial: o Irão é uma democracia, e se bem que ela seja um pouco sui generis, na generalidade tudo está OK. Aliás, tudo o que há de mau por cá também há em versão bem pior lá. Para que não pensem que tudo é deprimente, prometo contar histórias mais alegres nos mails que seguirão. Prometo, claro está, sob a condição de encontrar um computador a funcionar e de não me derreter, amanhã, durante uma viagem de onze horas que me vai levar de volta aos planaltos desérticos ao Sul de Teerão. Contarei as histórias de Isfaao e de outros lugares mágicos, e a pureza do perfume das flores sob o céu estrelado da Pérsia.
Zoltán Biedermann
«C'est ici, ô sage, le lieu de dire la valeur de l'intelligence... L'intelligence est le plus grand de tous les dons de Dieu, et la célébrer est la meilleure des actions. Elle est le guide, elle est la joie du coeur, elle est ton secours dans ce monde et dans l'autre. Elle est la source de tes joies et de tes chagrins, de tes profits et de tes pertes: si elle s'obscurcit, l'homme à l'âme claire ne peut connaître le contentement. Ainsi parle un maître vertueux et intelligent, des parolles duquel se nourrit le sage: "Quiconque n'obéit pas à la raison se déchirera luimême par ses actions; le sage l'appelle insensé et les siens le tiennent pour étranger." C'est par l'intelligence que tu te distingues dans ce monde et dans l'autre, et, quand elle est brisée, on est dans l'esclavage. Elle est l'oeil de l'âme: aveugle, tu ne peux marcher joyeux dans ce monde. Sache qu'elle fut la première chose créée. Elle est le protecteur de l'âme et des trois gardes, qui sont l'oeil, l'oreille et la langue, ces trois sources du bien et du mal. Mais qui pourrait célébrer suffisamment la raison et l'âme? et si je le pouvais, qui saurait l'entendre? Puisqu'il n'y a personne, ô sage, à quoi bon parler? Dis-nous donc la Création...»
Ferdowsi, Le Livre des Rois [epopeia persa]
«"Tornar-se o inimigo" significa imaginar-se na sua posição»
Miyamoto Musashi, O Livro dos Cinco Anéis
Aspecto de pormenor de um dos desenhos do Códice Português da Biblioteca Casanatense, que ilustra um elefante de guerra. Ilustrações provavelmente datadas do séc. XVI e atribuídas a um autor português. Zoltán Biedermann (CHAM) proferiu, no dia 24 de Março, uma conferência intitulada Entre o sagrado e o profano: o negócio dos elefantes de Ceilão, séculos XVI-XVII. Tratou-se de uma conferência muito interessante em que Zoltán Biedermann fez algumas referências à antiguidade a que acrescento aqui alguns dados complementares.
De facto, o elefante de guerra foi amplamente utilizado na antiguidade. Alexandre toma contacto com essa utilização durante a campanha na Índia. Na sequência da sua vitória sobre Porus, o elefante passa a ser usado tacticamente pelos reis helenísticos. Pausânias, na sua Descrição da Grécia (1.12.1), refere essa realidade:
«The first European to acquire elephants was Alexander, after subduing Porus and the power of the Indians; after his death others of the kings got them but Antigonus more than any; Pyrrhus captured his beasts in the battle with Demetrius. When on this occasion they came in sight the Romans were seized with panic, and did not believe they were animals.
Seleuco terá utilizado 480 elefantes na batalha de Ipsos, em 301 a.C. Ptolomeu II Filadelfo usou elefantes de origem africana. A batalha de Ráfia (217 a.C.), que opôs Ptolomeu IV a Antíoco III, envolveu a utilização de elefantes de ambos os lados. Ptolomeu usou 73 elefantes africanos e Antíoco empregou 102 elefantes indianos.
Políbio, nas Histórias (5.84), relata essa batalha:
«Ptolemy, accompanied by his sister, having arrived at
(Traduções: www.perseus.tufts.edu)
</foreign>«As jóias do céu indiano. O pisco do Oriente»
Texto e fotografia: Bhagat Singh
A Índia Perspectivas (Janeiro de 2004)
«As melodias do pisco são entre os mais bonitos cantos que se pode ouvir na natureza. Quando o sol aquece a terra, os machos preparam-se e animam os bairros com o seu canto. Quando a primavera chega, as plantas estão em flor em todo o lado e a natureza, em toda a sua beleza, promete felicidade e abundância a toda a gente. Depois, é o pisco do oriente (Copsychus saularis), balançado em cima da sua árvore preferida, que dá voz ao calor da sua paixão, principalmente logo de manhã ou às tardes. Os cantos são tão bonitos que sempre enchem os corações das pessoas com maravilhosas sensações. Toda a gente conhece o pisco e o seu canto. Durante a estação de criação, o canto é mais enfático. Os machos guardam os seus territórios com zelo e os seus cantos servem para estabelecer os seus direitos de território. Em sânscrito, este pássaro chama-se Srivad Pakshi pássaro com uma voz auspiciosa. É silencioso durante as outras estações do ano. O pisco do Oriente é mais ou menos do mesmo tamanho que o rouxinol indiano ou bulbul: 20 centímetros. É um pássaro preto e branco, com uma cauda proeminente. A fêmea tem cores menos brilhantes, com tons de azul e cinzento e o pescoço e peito castanhos, em contraste ao macho que é de um escuro azul e preto. Encontra-se esta espécie por toda a Índia, menos as partes áridas de Rajastão ocidental. Prefere morar em florestas decíduas, florestas de arbustos, pomares e bosques e gosta de estar perto aos humanos. Todavia, evita florestas densas e planícies abertas. A sua dieta consiste principalmente em insectos colhidos do chão e o néctar de flores como a salmalia e erythrina. O pisco do oriente costuma criar duas ninhadas durante a estação de criação, que estende de Março a Agosto. O ninho é construído em buracos nas árvores ou nas paredes. É construído de raízes, ervas, fibras vegetais e penas. A fêmea constrói o ninho e é responsável pela incubação dos ovos, enquanto o macho protege o ninho dos predadores. Ambos os sexos ajudam a alimentar as crias.»