Estou a ler o livro de Edward Said, Orientalismo, agora traduzido em português. Trata-se de uma leitura estimulante e que nos faz reflectir sobre os conceitos de Oriente e de Orientalismo. O autor problematiza, logo nas páginas iniciais (no prefácio de 2003 e na introdução), as várias representações de Oriente na Europa e no Ocidente, designadamente numa perspectiva diacrónica. É importante reflectir-se sobre esta questão. Poderemos falar no Oriente como uma unidade, que se distingue ontológica e culturalmente do Ocidente, mas que, além disso, contenha uma coerência e uma unidade intrínsecas? Esta era claramente a convicção do pensamento no século XIX, que se materializou no nascimento do Orientalismo como disciplina académica. Said afirma, a certa altura, que «O Oriente não é apenas um lugar adjacente à Europa; é também a região onde se encontram as maiores, mais ricas e antigas colónias europeias, é a fonte das civilizações e línguas europeias, o adversário cultural e uma das imagens mais profundas e recorrentes do Outro. Por outro lado, o Oriente ajudou a definir a Europa (ou o Ocidente) como contraposição à sua imagem, como ideia, personalidade e experiência contrárias à sua. O Oriente é uma parte integrante da civilização e cultura materiais da Europa.» (pp.1-2)
Isto parece-me claro. Para o Ocidente, o Oriente é o que não é ocidental. É a experiência, a representação e o discurso da alteridade. Dessa experiência e da aproximação ao Outro resultam naturalmente a sua própria transformação e reinvenção. Todavia, outra questão é a da unidade ontológica e cultural que o Oriente poderá ou não conter. O que aproxima o Islão à China ou ao Japão? Aceitando a diversidade oriental, o mosaico de Orientes, a unidade do Oriente estará pois na alteridade que representa relativamente ao Ocidente.
Isto parece-me claro. Para o Ocidente, o Oriente é o que não é ocidental. É a experiência, a representação e o discurso da alteridade. Dessa experiência e da aproximação ao Outro resultam naturalmente a sua própria transformação e reinvenção. Todavia, outra questão é a da unidade ontológica e cultural que o Oriente poderá ou não conter. O que aproxima o Islão à China ou ao Japão? Aceitando a diversidade oriental, o mosaico de Orientes, a unidade do Oriente estará pois na alteridade que representa relativamente ao Ocidente.