Nomear tem nas culturas pré-clássicas uma força performativa que se observa nos mitos cosmogónicos e antropogónicos. No Génesis, à medida que Deus vai criando o mundo, vai nomeando, produzindo a passagem para uma realidade multíplice (Gn.1). Depois de criar o homem, Deus conduziu todas as criaturas criadas antes dele à sua presença, esperando que ele as nomeasse (Gn.2, 19-20). O acto de nomear traduz também a apropriação do mundo, que Deus lhe confia. Em conformidade com este postulado, no relato antropogónico anterior (Gn.1, 26-31), que deriva de uma outra tradição redaccional, o redactor explicita que Deus cria o homem para que este domine sobre o mundo e sobre todas as suas criaturas. Por conseguinte, o acto de nomear significa, em primeira instância, criar, competência que pertence ao ser divino, mas corresponde igualmente à apropriação da natureza e do mundo, o que completa o acto demiúrgico. A nomeação / apropriação traduz uma responsabilidade que Deus confere ao homem, delegando nele a conservação do mundo e a preservação da ordem.
No Enuma Elish, poema babilónico da criação, é afirmado que «Quando em cima, o céu não havia sido nomeado e, em baixo, à terra firme não havia sido dado um nome, só Apsu, o seu pai, e a mãe Tiamat, a que todos gerou, misturavam juntos as suas águas: ainda não se haviam aglomerado os juncais, nem as canas haviam sido vistas, quando os deuses ainda não haviam aparecido, nem haviam sido chamados com um nome, nem fixado nenhum destino, os deuses foram procriados dentro deles. São os primeiros versos do poema cosmogónico e relatam um estádio inicial em que só existiam as águas primordiais (Apsu e Tiamat). Não se havia ainda iniciado a criação e mesmo todos os outros deuses não haviam ainda sido criados. Sê-lo-ão depois por Apsu e Tiamat. A não-nomeação significa a não-existência. Neste tempo anterior ao início da criação, o ser manifesta-se através da existência das águas primordiais e isso é tudo quanto existe, ainda que toda a criação esteja nisso em potência. É o acto de nomear que actualizará o que virá a existir. Nomear é permitir a vinda à existência daquilo que estava destinado a ser. Criar é, portanto, a actualização e a transformação do ser, a passagem de um ser uno para a multiplicidade e diferenciação do ser.