Camilo Pessanha nasceu em Coimbra, em 1867. Datam de 1885 os seus primeiros poemas conhecidos. Em 1894, parte para Macau para ensinar Filosofia no Liceu, tendo oportunidade de conhecer e de conviver com Wenceslau de Moraes. Em 1920, é publicada a sua obra mais conhecida, a Clepsydra. Morreu em 1926.
Relativamente à poesia de Camilo Pessanha, levanta-se uma questão interessante que é a de saber até que ponto a poesia chinesa terá influenciado a sua escrita. A este propósito, Esther de Lemos (A «Clépsidra» de Camilo Pessanha, p.170) afirma que a poesia chinesa terá reforçado «nele uma tendência para certa desarticulação sintáctica, uma coordenação assindética, a utilização de frases elípticas, ambiguidade provocada pela colocação das palavras e ambiguidade na morfologia destas». Por outro lado, José Augusto Seabra refere que «A minúcia do trabalho poético da língua do fonema à sílaba, ao morfema, ao lexema, ao sintagma muito deve entretanto,
Citações extraídas de Manuela Delgado Leão Ramos, António Feijó e Camilo Pessanha no panorama do Orientalismo português, Lisboa, Fundação Oriente, 2001.
Trecho do poema de Camilo Pessanha, intitulado «Branco e vermelho»
«( ) A cada golpe tremem
Os que de medo tremem,
E as pálpebras me tremem
Quando o açoite vibra.
Estala! e apenas gemem,
Palidamente gemem,
A cada golpe gemem,
Que os desequilibra. Sob o açoite caem,
A cada golpe caem,
Erguem-se logo. Caem,
Soergue-os o terror...
Até que enfim desmaiem,
Por uma vez desmaiem!
Ei-los que enfim se esvaem,
Vencida, enfim, a dor.
E ali fiquem serenos, de costas e serenos.
Beije-os a luz, serenos,
Nas amplas frontes calmas.
Ó ceus claros e amenos,
Doces jardins amenos,
Onde se sofre menos,
Onde dormem as almas! (...)».