04
Mai 04

«When you are with everyone but me,


you're with no one.


When you are with no one but me,


you're with everyone.


Instead of being so bound up with everyone,


be everyone.


When you become that many, you're nothing.


Empty.»


 


Rumi (Jelaluddin Balkhi) nasceu em 1207, no Afeganistão, e morreu em 1273. O seu pai era um teólogo e um místico e ele tornou-se um sheik na comunidade dervixe. Mais tarde, tornar-se-á também um místico e a sua poesia reflecte essa sensibilidade e essa forma de sabedoria. A poesia, a par da música, consistia aliás numa das formas de propiciar a comunhão extática e mística com o ser divino.



  • Leitura  recomendada: Barks, Coleman e Moyne, John (trad.), The Essential Rumi, New York, Harper Collins, 1995.
publicado por Francisco Caramelo às 16:17

03
Mai 04

The Bridge in the Rain (after Hiroshige)


Pintura de Van Gogh, segundo gravura de Hiroshige, Paris, 1887.


«Compreendeis como sejam inúmeros os assuntos das estampas; e o que se pode dizer delas, como concepção, aplica-se a toda a arte nipónica. No entanto, o artista japonês escolhe de preferência motivos da vida real, é um realista; mostra-vos por exemplo um canto da paisagem da sua terra; ou uma cena da vida animal, servindo-lhe muitas vezes de herói o mais modesto ser, uma ave, um réptil, um insecto, um verme; ou um quadro da existência rotineira, um aldeão no amanho do campo, uma festa de chaya, uma musumé nas ocupações da casa, do jardim; ou um transe das suas febres de luta, em que se assaltam castelos, em que guerreiros se chacinam.


O pintor japonês não copia; recorda, invoca; assim é que, realista pelo assunto, é impressionista pelo processo. (...) Não copia; recorda, invoca; depois, materializa uma impressão, como se lhe gravou no cérebro. Daqui, a feição originalíssima da pintura japonesa, que ao europeu que não sabe ver, ou não quer ver, se afigura disparatada. Não há sombras; perspectivas raras, traços duros, por vezes, dos contornos; formas convencionais, simples esboços, para todos os narizes, para todos os olhos, para todas as bocas, das musumés. São então estes os japonese os tão apregoados cultores da verdade?


Sem dúvida, e nisto mesmo se denunciam, como ides ver. Tento explicar-me. Ora escutai-me: conheceis um indivíduo, um parente, vosso pai, suponho, que a vossa mente muitas vezes invoca; vêde-lo assim em pensamento, com uma sinceridade de linhas, que o hábito do convívio, o amor filial, vos gravaram no cérebro; mas concordai comigo que, nas vossas invocações, nunca vereis a sombra desse pai projectada no chão ou os jogos passageiros de luz na curva do seu chapéu alto. São detalhes secundários, escravos das leis físicas que nos regem, mas de que o moral se emancipa, por supérfluos. (...)


Compreendeis agora como a pintura japonesa, como a gravura japonesa, como a arte japonesa, enfim, se ofereçam curiosas ao estudo. Toda a manifestação artística, representando formas já assimiladas pelo cérebro de outrem, parece que deve impressionar-vos mais rapidamente, mais intensamente, visto poupar-vos ao vosso trabalho mental de assimilação; creio dever assim explicar-se o irresistível encanto que esta arte nipónica exerce sobre o europeu.


Agora posso falar-vos das audácias de traço destes obreiros, seguros da linha e ricos de imaginação. O desenho japonês quase que mexe. Roupas que ondulam; braços nus de musumés, adoráveis na forma, curvando-se, erguendo-se, consoante os misteres; dedinhos longos, terminando por unhas em amêndoa, contorcendo-se na originalíssima mímica de todos os instantes. Os samorais lutam corpo a corpo; eis por exemplo um que vem derrubar outro, assenta-lhe o pé descalço sobre o pescoço, prime a esmagá-lo, brande a espada nua, embebe-a no corpo agonizante, donde espirra o sangue em golfada; e são tais exageros deste músculos entumescidos, neste pé espalmado, que quase os vemos palpitando, latejantes, e quase esperamos ouvir o derradeiro rugido do que expira. Paisagens fantásticas; liberdades inauditas de ramarias, quiosques rendilhados, borboletas amando-se, as manchas escarlates dos peixes rompendo a serenidade verde dos lagos dos jardins, nuvens roxas aos saltos pelo espaço.


E é isto o Japão.»


Wenceslau de Morais, Traços do Extremo-Oriente


publicado por Francisco Caramelo às 15:23

«Antigamente os deuses invisíveis residiam no céu. O deus Yzagani e a deusa Yzanani datam dessa época puramente divina. Um dia, alguns pingos de água caíram da lança do deus, que quisera sondar a profundeza do mar, e formaram a ilha de Awaji, que se tornou a ilha dos seus amores. A deusa deu ao mundo as oito principais ilhas do Japão, depois as divindades que haviam governado o mundo, em favor de um menino nascido das jóias que ornavam a fronte. O filho do sol desceu à ilha de Kiusiu onde, durante duas gerações, residiu a família imperial; depois do que, dois dos seus membros atravessaram o mar interior, guiados pela ave de oito cabeças e protegidos pela espada milagrosa, conquistaram o Nippon central aos deuses e aos homens rebeldes. Um deles, Yware Hiko, cujo nome póstumo foi Jummu Tenno, foi o primeiro soberano do Japão; morreu em 585 antes de Jesus Cristo; os seus descendentes ocupam hoje o trono.»


conto sobre a origem do Japão recolhido por Wenceslau de Morais, Traços do Extremo Oriente.

publicado por Francisco Caramelo às 12:53

02
Mai 04

The softest thing in the world


Will overcome the hardest.


Non-being can enter where there is no space.


Therefore I know the benefit of unattached action.


The wordless teaching and unattached action


Are rarely seen.


 


Tao Te Ching [Trad. de Charles Muller] http://www.hm.tyg.jp/~acmuller/contao/laotzu.htm

publicado por Francisco Caramelo às 15:49

01
Mai 04

Nomear tem nas culturas pré-clássicas uma força performativa que se observa nos mitos cosmogónicos e antropogónicos. No Génesis, à medida que Deus vai criando o mundo, vai nomeando, produzindo a passagem para uma realidade multíplice (Gn.1). Depois de criar o homem, Deus conduziu todas as criaturas criadas antes dele à sua presença, esperando que ele as nomeasse (Gn.2, 19-20). O acto de nomear traduz também a apropriação do mundo, que Deus lhe confia. Em conformidade com este postulado, no relato antropogónico anterior (Gn.1, 26-31), que deriva de uma outra tradição redaccional, o redactor explicita que Deus cria o homem para que este domine sobre o mundo e sobre todas as suas criaturas. Por conseguinte, o acto de nomear significa, em primeira instância, criar, competência que pertence ao ser divino, mas corresponde igualmente à apropriação da natureza e do mundo, o que completa o acto demiúrgico. A nomeação / apropriação traduz uma responsabilidade que Deus confere ao homem, delegando nele a conservação do mundo e a preservação da ordem.


No Enuma Elish, poema babilónico da criação, é afirmado que «Quando em cima, o céu não havia sido nomeado e, em baixo, à terra firme não havia sido dado um nome, só Apsu, o seu pai, e a mãe Tiamat, a que todos gerou, misturavam juntos as suas águas: ainda não se haviam aglomerado os juncais, nem as canas haviam sido vistas, quando os deuses ainda não haviam aparecido, nem haviam sido chamados com um nome, nem fixado nenhum destino, os deuses foram procriados dentro deles. São os primeiros versos do poema cosmogónico e relatam um estádio inicial em que só existiam as águas primordiais (Apsu e Tiamat). Não se havia ainda iniciado a criação e mesmo todos os outros deuses não haviam ainda sido criados. Sê-lo-ão depois por Apsu e Tiamat. A não-nomeação significa a não-existência. Neste tempo anterior ao início da criação, o ser manifesta-se através da existência das águas primordiais e isso é tudo quanto existe, ainda que toda a criação esteja nisso em potência. É o acto de nomear que actualizará o que virá a existir. Nomear é permitir a vinda à existência daquilo que estava destinado a ser. Criar é, portanto, a actualização e a transformação do ser, a passagem de um ser uno para a multiplicidade e diferenciação do ser.

publicado por Francisco Caramelo às 12:05

«Vendo que fizeste mal ao teu amigo, que farás tu ao teu inimigo?»


Provérbio assírio

publicado por Francisco Caramelo às 10:15

Maio 2004
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
11
13
14

19
20

23
24
26

31


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds
mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO