À esquerda: Guanyin com criança ao colo; China, séc. XIX. À direita: A Virgem e o Menino; Constantinopla, sécs. XI-XII.
A procura de paralelismos culturais, religiosos e estéticos em civilizações diferentes torna-se, por vezes, obsessiva e conduz, frequentemente, a comparações e a extrapolações excessivas, tanto no domínio do texto como no âmbito da imagem e do visual. Algumas dessas comparações são, no entanto, estimulantes e obrigam à reflexão. É o caso destas representações de Guanyin e da Virgem. O que está em causa é o paradigma cultural e religioso que se encontra subjacente a cada uma destas imagens. Guanyin representa na religião popular da China uma deusa da misericórdia. No Japão, Guanyin era conhecida como Kannon. Por vezes representada com uma criança ao colo, significava a dádiva às mulheres sem filhos. Os missionários cristãos no Japão do séc. XVI veneravam clandestinamente Nossa Senhora na imagem de Kannon. O par não tem o mesmo significado numa e noutra religião mas o que é interessante é a forma como se deu a recepção visual de Guanyin / Kannon entre os missionários católicos.